domingo, 12 de junho de 2011

Aprender a deixar ir *


"(...)


Porque será que fazemos isso? Por alma de quem deixamos que a nossa mente nos domina?
Penso que em parte, isso tem a ver com um dos aspectos mais difíceis que vêm com o privilégio de dispor de uma mente consciente: ela tem a tendência de se impor até ao ponto de nos confundirmos com ela. Mas não somos a nossa mente. A mente é um dos atributos do ser humano - a forma que acolheu a nossa consciência, a nossa alma. Não somos obrigados a sujeitar-nos aos caprichos da mente! No momento em que há um entendimento profundo que a nossa mente, ela própria, é causa de muito do nosso sofrimento, podemos fazer o passo decisivo e começar a libertar-nos dos pesados padrões de pensamento.

(As quatro aproximações que são mencionadas, encontram-se no Dhammapada, um dos textos que formam a base do budismo Theravada.)

1 Deitar fora o que te pesa. Abre a mão!
É impressionante o cargo emocional que somos dispostos a carregar connosco. Preocupações sobre os outros, sobre a nossa interacção com outros; preocupações sobre o futuro; cenários sobre como podemos falhar, ser incapaz, infeliz, pobre... Tudo em conjunto transforme-se num peso que parece pender do nosso pescoço ou nos ombros. E porquê? O que isso te traz em termos de felicidade? Na verdade, o que traz é sofrimento por antecipação, ou sofrimento através das emoções não digeridas e associadas à memória. Mas o peso só existe enquanto o carregues. Porque não deitar fora o peso?
A tua mente não está agarrada aos pensamentos de sofrimento por ter essa natureza: foi um processo de socialização, aculturação e habituação que levou a tua mente a ter manobras para se segurar, ter uma noção de controlo sobre os acontecimentos. Mas podes também habituar a mente a não se agarrar ao futuro ou ao passado, e virar-te para o que realmente importe: estar no momento, e sentir o momento. É no Aqui e Agora que possas actuar e tomar as decisões conscientes que vão construir o teu futuro.Mas para isso tens que estar presente!

2 Viver no momento: faça só uma coisa cada vez.
Temos todos muita coisa que nos preocupa. Família, casa, trabalho, amigos, falta de tempo, colegas que chateiam, invejas e ciúmes que nos são lançados, o dinheiro que falta ao fim do mês, as tarefas que se acumulam... A um dado momento no dia podem passar milhares de pensamentos, muitos deles não tendo nada a ver com a actividade que estamos a desempenhar ou a conversa que estamos a ter. Mas porquê tentar dividir a capacidade mental sobre tantos assuntos? Corre-se o risco de não fazer satisfatoriamente o que decidimos fazer; mais: Viver no aqui e agora, consciente do que estamos a fazer, disponibilizando toda a nossa capacidade mental e atenção... para fazer uma coisa de cada vez. Dando a nossa energia toda, sempre podemos ter a certeza que fizemos tudo para que as coisas correm bem. Não haverá lugar para dúvidas: dás o que tens de melhor: a tua atenção completa.
Talvez seja preciso estabelecer prioridades - assim seja. Não é preciso sentir-te em falta ou culpado por não dar a tua atenção às coisas que esperam a sua vez - quando chegar a vez delas, podem contar também com a tua atenção completa.

3 Perceber que estamos sempre no momento certo no lugar certo.
A lei do karma implica que tudo o que nos acontece, é resultado das nossas acções - e qualquer acontecimento serve para aprendermos com as consequências das nossas acções e, em simultâneo, é uma oportunidade de tomar as acções que vão constituir a base do nosso futuro. Ou seja: estás sempre no lugar certo e no momento certo - mesmo quando isso parece colidir com a convicção da tua mente e do teu ego... Ao aprendermos a inevitabilidade da vida, podemos começar a perceber que não é no exterior que se encontram as condições para sermos feliz, neste momento e na circunstância que te encontras. Se apontamos com o dedo para fora, implicando que são os outros que nos impedem, fechamos os olhos para o que podemos fazer por nós.
Depois de aceitar que estamos sempre no lugar certo e no momento certo, podemos começar a ver que isso sempre é para o nosso próprio bem: serve a nossa aprendizagem. Infelizmente, as lições do karma só podem ser compreendidas na sua plenitude, após da aprendizagem.
No entanto, podemos ficar reconfortados com a perspectiva que se abre. Podemos começar a querer estar onde estamos - porque o nosso desejo final é evolução.
No momento em que começas a querer estar onde estás... o lugar onde estás deixa de ser uma prisão! E podemos descobrir algo maravilhosa: só estavam à vista as paredes da clausura da situação, enquanto na nossa percepção era uma prisão. Mas depois de começar a ver que estamos no lugar onde precisamos e queremos estar, vemos onde estão as janelas, as portas, se estão abertas, o que há além das paredes!

4 Cultivar a mente-anti-aderente.
O último truque para libertar-nos de peso emocional, é de facto um truque de prevenção: ter uma mente-anti-aderente. Não deixas que os eventos, acontecimentos, encontros, conversas, te colam nas paredes cerebrais. Cultivar uma atitude de observar o que acontece, tirar as conclusões que precisam ser tiradas, e deixar que as coisas passam, faz com que nada cola....
É como ter uma frigideira anti-aderente... precisa de ser passada por água para livrar-se dos restos dos omeletes, sob pena do próximo ter o sabor do último.

Há muitos exercícios possíveis para treinar a mente de descarregar peso, ser mono-funcional, aceitar o lugar do momento, e ser anti-aderente. Nas meditações ensaiamos todas as semanas alguns; mas o segredo de ser bem-sucedido está na disciplina diária. Não basta saber o que precisas fazer: é preciso fazé-lo!"


texto retirado do blog http://cavalo-de-vento.blogspot.com/

*

sábado, 11 de junho de 2011



"She was breathing deeply, she forgot the cold, the weight of beings, the insane or static life, the long anguish of living or dying. After so many years running from fear, fleeing crazily, uselessly, she was finally coming to a halt. At the same time she seemed to be recovering her roots, and the sap rose anew in her body, which was no longer trembling. Pressing her whole belly against the parapet, leaning toward the wheeling sky, she was only waiting for her pounding heart to settle down, and for the silence to form in her. The last constellations of stars fell in bunches a little lower on the horizon of the desert, and stood motionless. Then, with an unbearable sweetness, the waters of the night began to fill her, submerging the cold, rising gradually to the center of her being, and overflowing wave upon wave to her moaning mouth. A moment later, the whole sky stretched out above her as she lay with her back against the cold earth."

»Albert Camus

quarta-feira, 8 de junho de 2011

*


“Your beliefs become your thoughts,
Your thoughts become your words,
Your words become your actions,
Your actions become your habits,
Your habits become your values,
Your values become your destiny.”
— Mahatma Gandhi

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Normose ou o dia a dia.



A palavra normose foi criada na França pelo escritor e conferencista Jean-Ives Leloup para designar, em síntese, essa forma de comportamento visto como normal mas que, na realidade, não é normal.
Transportando esse conceito para observação da sociedade atual verificamos que as pessoas se pautam por padrões estabelecidos por alguém ou um grupo, em algum momento.
Por exemplo, segundo padrões da moda atual, ser normal é ser magro e bonito.
Para isso, vale dieta e, a cada dia surge uma diferente, ditada por essa ou aquela celebridade que afirma ter conseguido o peso ideal em um tempo mínimo.
Para alcançar as medidas ideais da dita normalidade vale a frequência a academias, com rigorosos exercícios físicos, massagens e tudo o mais que possa permitir atingir o idealizado.
E depois vêm as cirurgias para modificar tudo que seja possível alterar.
Não escapam os dentes, que devem ser perfeitos e brancos e, para isso, submetem-se as pessoas a aplicações de laser, porcelana e o que mais seja necessário.
Não importa se algo faz mal à saúde. O importante é ser normal que inclui, ao demais, estar sempre na moda, vestir a roupa do momento, custe o que custar.
Gastam-se verdadeiras fortunas com cabeleireiros, maquiagem, produtos de beleza.
Porque não se pode perder festa alguma. Nem evento importante. Isso logo nos desqualificaria como um ser normal.
Naturalmente, é louvável o cuidado com o corpo, a atenção ao parecer bem, à elegância. Faz parte da evolução da criatura cultivar o belo, o bom.
Mas daí aos exageros, aos excessos vai uma distância que prima pela insensatez.
Gasta-se o que não se tem, finge-se o que não se é. Tudo para parecer normal… Como os demais.
Que padrão de normalidade, afinal, estamos elegendo? Algo totalmente físico, exterior, passageiro em detrimento de valores reais?
Será isso que desejamos para os nossos filhos, a Humanidade do amanhã?
Desejaremos uma Humanidade de pessoas esquálidas, bulímicas, estressadas e vazias de conteúdo?
Cabe-nos pensar um pouco, antes que nossos filhos, por não atenderem aos padrões ditados por alguns se lancem no fundo poço da depressão, perdendo as oportunidades de progresso nesta vida.
Estamos na Terra para angariar sabedoria, ilustrar a mente, dulcificar o coração, ascender à perfeição.
A mente se ilustra com estudo, reflexão, esforço. O coração se dulcifica no exercício do bem ao próximo, entendendo que as diferenças existem para permitir realce à verdadeira beleza.
Invistamos nisso. E, em vez de nos esgotarmos em horas e mais horas de trabalho para conseguir mais dinheiro para atender a necessidades tolas, reservemos tempo para conviver com a família, com os amigos.
Reservemos tempo para leituras, alimentando as ideias; para a reflexão, a fim de nos enriquecermos interiormente.
Tempo para olhar o nascer do sol e seu desaparecer no poente, para ouvir a sinfonia da chuva em dias quentes, o agradecimento da terra pela água que sorve, com sofreguidão.
Tempo para amar, para viver, para ser um humano de valor, para ser feliz.
Pensemos nisso!


retirado do blog: http://pedagogiadoencontro.blogspot.com

sábado, 14 de maio de 2011

quem não sentir nada a ouvir isto, não tem coração.

Amor.. e um dos meus livros preferidos.



"Então Almitra disse, fala-nos do Amor.
E ele ergueu a cabeça e olhou para o povo e caiu uma grande imobilidade
sobre eles. E em voz poderosa ele disse:
Quando o amor vier ter convosco,
Seguros embora os seus caminhos sejam árduos e sinuosos.
E quando as suas asas vos envolverem, abraçai-o, embora a espada oculta sob
as asas vos possa ferir.
E quando ele falar convosco, acreditai,
Embora a sua voz possa abalar os vossos sonhos como o vento do norte
devasta o jardim.
Pois o amor, coroando-vos, também vos sacrificará. Assim como é para o
vosso crescimento também é para a vossa decadência.
Mesmo que ele suba até vós e acaricie os mais ternos ramos que tremem ao
sol,
Também até às raízes ele descerá e abaná-las-à
Enquanto elas se agarram à terra.
Como molhos de trigo ele vos junta a si.
Vos amanha para vos pôr a nu.

Vos peneira para vos libertar das impurezas.
Vos mói até à alvura.
Vos amassa até vos tomardes moldáveis;
E depois entrega-vos ao seu fogo sagrado, para que vos tomeis pão sagrado
para a sagrada festa de Deus.
Toda estas coisas vos fará o amor até que conheçais os segredos do vosso
coração, e, com esse conhecimento, vos tomeis um fragmento do coração da
Vida.
Mas se, receosos, procurardes só a paz do amor e o prazer do amor,
Então é melhor que oculteis a vossa nudez e saiais do amor,
Para o mundo sem sentido onde rireis, mas não com todo o vosso riso, e
chorareis mas não com todas as vossas lágrimas.
O amor só se dá a si e não tira nada senão de si.
O amor não possui nem é possuído;
Pois o amor basta-se a si próprio.
Quando amardes não deveis dizer "Deus está no meu coração", mas antes
"Eu estou no coração de Deus".
E não penseis que podeis alterar o rumo do amor, pois o amor, se vos achar
dignos, dirigirá o seu curso.
O amornão tem outro desejo que o de se preencher a si próprio.
Mas se amardes e tiverdes desejos, que sejam esses os vossos desejos:
Fundir-se e ser como um regato que corre e canta a sua melodia para a noite.
Para conhecer a dor de tanta ternura.
Ser ferido pela vossa própria compreensão do amor;

E sangrar com vontade e alegremente.
Despertar de madrugada com um coração alado e dar graças por mais um dia
de amor;
Repousar ao fim da tarde e meditar sobre o êxtase do amor;
Regressar a casa à noite com gratidão;
E depois adormecer com uma prece para os amados do vosso coração e um
cântico de louvor nos vossos lábios."

Khalil Gibran in "O profeta" *

domingo, 8 de maio de 2011

"oh colega cuidado com as emoções"



"If people see this they'll say 'Oh my God, that is horrible,' and then go on eating their dinners.”
JOAQUIN PHOENIX (Jack)

é nestas alturas que gostava de ter a sensibilidade de uma avestruz.
meter a cabeça na areia à espera do 2012.
e ir para festas de trance.
enquanto o mundo mergulha no caos.

gostava mesmo.
mas sou o caos.
e não tenho medo.

P.s: tenho de deixar de ir à Baixa. desalinha-me os chackras.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Se..



"Se podes suportar que outros te acusem
Quando do mal não sejas culpado
E, muito embora todos se recusem
A acreditar em ti, tu segues confiado;
Se podes esperar sem desesperança,
À mentira antepor sempre a verdade;
Não responder a ódios com vingança,
Mas sem aparentar muita bondade.

Se tu podes sonhar sem que o Sonho te arraste,
Se tu podes pensar sem que a Ideia te vença;
Se podes encarar o Triunfo e o Desastre
Com a mesma indiferença;
Tua verdade ouvir por outrem pervertida
Na mentira subtil que os néscios alimenta;
Ou, vendo destruída a obra da tua vida,
Recomeçá-la com a gasta ferramenta.

Se podes arriscar numa jogada
Toda a tua fortuna e, tendo-a assim perdido,
Principiar outra vez, voltando ao nada,
Sem jamais aludir ao sucedido;
Se podes comandar o coração e os nervos
E, quando fores só uma ruína,
Torná-los ainda servos
Dessa tua vontade que os domina;

Se sabes enfrentar, sereno, as multidões
E o convívio dos reis não te inebria;
Se os inimigos como as afeições
Não puderem prender-te em demasia;
Se viveres, enfim, o Tempo inexorável
Longe das lutas vãs em que os outros o consomem;
Será teu o Universo e, o que é mais admirável,
Serás um Homem!"


»Rudyard Kipling [tradução de Anrique Paço d'Arcos]

quarta-feira, 20 de abril de 2011

creio..


"Creio nos anjos que andam pelo mundo,
creio na deusa com olhos de diamantes,
creio em amores lunares com piano ao fundo,
creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes;

creio num engenho que falta mais fecundo
de harmonizar as partes dissonantes,
creio que tudo é eterno num segundo,
creio num céu futuro que houve dantes,

creio nos deuses de um astral mais puro,
na flor humilde que se encosta ao muro,
creio na carne que enfeitiça o além,

creio no incrível, nas coisas assombrosas,
na ocupação do mundo pelas rosas,
creio que o amor tem asas de ouro. Amén."

»Natália Correia

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Conan, gosto de ti*

"Don´t be cynical..it´s the worst qualitie that you can have..
Nobody in life gets exactly what they thought they were going to get. But if you work really hard and you're kind, amazing things will happen." ♥
Conan, na sua despedida da NBC.

Balada do Louco ~ Ney Matogrosso

quarta-feira, 13 de abril de 2011

..este verão.. :)*



"Este Verão ensina-me
a amar as minhas cicatrizes
a enfeitar-me com marcas de estrangulamento no pescoço

Este Verão ensina-me
a fechar à chave a amargura e fico
bem roliça e anafada pareço bem tratada

Este Verão ensina-me
a gritar o bel canto

Este Verão ensina-me
que a solidão descansa
e cresce numa mão

Este Verão ensina-me
a não confundir um corpo disponível
com o desejo de felicidade

Este Verão ensina-me
a ser para cada pedra um espelho de água

Este Verão ensina-me
a amar grandes bolas de sabão e pequenas
antes de rebentarem

Este Verão ensina-me
que tudo sem nós
por si continua

Este Verão ensina-me
um rosto gelado feliz

Este Verão ensina-me
tenho que ser eu a bater no tambor
quando quiser dançar

este Verão ensina-me
a ser sem felicidade sem tristeza por uns
segundos aliada de Deus

Este Verão ensina-me
a acordar de manhã. Grata. Sozinha.

Este Verão ensina-me
que a folha do limoeiro só deita cheiro
quando a desfazemos entre os dedos."


»Ulla Hahn

terça-feira, 12 de abril de 2011

Os pobrezinhos



"Na minha família os animais domésticos não eram cães nem gatos nem pássaros; na minha família os animais domésticos eram pobres. Cada uma das minhas tias tinha o seu pobre, pessoal e intransmissível, que vinha a casa dos meus avós uma vez por semana buscar, com um sorriso agradecido, a ração de roupa e comida.

Os pobres, para além de serem obviamente pobres (de preferência descalços, para poderem ser calçados pelos donos; de preferência rotos, para poderem vestir camisas velhas que se salvavam, desse modo, de um destino natural de esfregões; de preferência doentes a fim de receberem uma embalagem de aspirina), deviam possuir outras características imprescindíveis: irem à missa, baptizarem os filhos, não andarem bêbedos, e sobretudo, manterem-se orgulhosamente fiéis a quem pertenciam. Parece que ainda estou a ver um homem de sumptuosos farrapos, parecido com o Tolstoi até na barba, responder, ofendido e soberbo, a uma prima distraída que insistia em oferecer-lhe uma camisola que nenhum de nós queria:

- Eu não sou o seu pobre; eu sou o pobre da minha Teresinha.

O plural de pobre não era «pobres». O plural de pobre era «esta gente». No Natal e na Páscoa as tias reuniam-se em bando, armadas de fatias de bolo-rei, saquinhos de amêndoas e outras delícias equivalentes, e deslocavam-se piedosamente ao sítio onde os seus animais domésticos habitavam, isto é, uma bairro de casas de madeira da periferia de Benfica, nas Pedralvas e junto à Estrada Militar, a fim de distribuírem, numa pompa de reis magos, peúgas de lã, cuecas, sandálias que não serviam a ninguém, pagelas de Nossa Senhora de Fátima e outras maravilhas de igual calibre. Os pobres surgiam das suas barracas, alvoraçados e gratos, e as minhas tias preveniam-me logo, enxotando-os com as costas da mão:

- Não se chegue muito que esta gente tem piolhos.

Nessas alturas, e só nessas alturas, era permitido oferecer aos pobres, presente sempre perigoso por correr o risco de ser gasto

(- Esta gente, coitada, não tem noção do dinheiro)

de forma de deletéria e irresponsável. O pobre da minha Carlota, por exemplo, foi proibido de entrar na casa dos meus avós porque, quando ela lhe meteu dez tostões na palma recomendando, maternal, preocupada com a saúde do seu animal doméstico

- Agora veja lá, não gaste tudo em vinho

o atrevido lhe respondeu, malcriadíssimo:

- Não, minha senhora, vou comprar um Alfa-Romeu

Os filhos dos pobres definiam-se por não irem à escola, serem magrinhos e morrerem muito. Ao perguntar as razões destas características insólitas foi-me dito com um encolher de ombros

- O que é que o menino quer, esta gente é assim

e eu entendi que ser pobre, mais do que um destino, era uma espécie de vocação, como ter jeito para jogar bridge ou para tocar piano.

Ao amor dos pobres presidiam duas criaturas do oratório da minha avó, uma em barro e outra em fotografia, que eram o padre Cruz e a Sãozinha, as quais dirigiam a caridade sob um crucifixo de mogno. O padre Cruz era um sujeito chupado, de batina, e a Sãozinha uma jovem cheia de medalhas, com um sorriso alcoviteiro de actriz de cinema das pastilhas elásticas, que me informaram ter oferecido exemplarmente a vida a Deus em troca da saúde dos pais. A actriz bateu a bota, o pai ficou óptimo e, a partir da altura em que revelaram este milagre, tremia de pânico que a minha mãe, espirrando, me ordenasse

- Ora ofereça lá a vida que estou farta de me assoar

e eu fosse direitinho para o cemitério a fim de ela não ter de beber chás de limão.

Na minha ideia o padre Cruz e a Saõzinha eram casados, tanto mais que num boletim que a minha família assinava, chamado «Almanaque da Sãozinha», se narravam, em comunhão de bens, os milagres de ambos que consistiam geralmente em curas de paralíticos e vigésimos premiados, milagres inacreditavelmente acompanhados de odores dulcíssimos a incenso.

Tanto pobre, tanta Sãozinha e tanto cheiro irritavam-me. E creio que foi por essa época que principiei a olhar, com afecto crescente, uma gravura poeirenta atirada para o sótão que mostrava uma jubilosa multidão de pobres em torno da guilhotina onde cortavam a cabeça aos reis"

»António Lobo Antunes

Texto citado na Conferência sobre a exclusão social.
Pensemos nisto.. este texto foi escrito acerca de uma dimensão social que se vivia há uns 40, 50 anos.. estaremos diferentes?
*

Special ~Mew

domingo, 10 de abril de 2011

FMI!!!!


» José Mário Branco - FMI

Tão contemporâneo, não é?

Para quem se der ao trabalho de ler a letra toda...

sexta-feira, 8 de abril de 2011

geração à rasca.. ou que não se sabe desenrascar?


O texto que vou colocar no blog, foi-me enviado por uma amiga para o email. Infelizmente partilho integralmente a opinião com o autor do texto.. não retirando também a culpa que os políticos corruptos (quem? são todos) da situação do país.
Aqui vai:


"A geração dos meus pais não foi uma geração à rasca.
Foi uma geração com capacidade para se desenrascar.
Numa terriola do Minho as condições de vida não eram as melhores.
Mas o meu pai António não ficou de braços cruzados à espera do Estado
ou de quem quer que fosse para se desenrascar.
Veio para Lisboa, aos 14 anos, onde um seu irmão, um pouco mais velho,
o Artur, já se encontrava.
Mais tarde veio o Joaquim, o irmão mais novo.
Apenas sabendo tratar da terra e do pastoreio, perdidos na grande e
desconhecida Lisboa, lançaram-se à vida.
Porque recusaram ser uma geração à rasca fizeram uma coisa muito simples.
Foram trabalhar.

Não havia condições para fazerem o que sabiam e gostavam.
Não ficaram à espera.
Foram taberneiros.
Foram carvoeiros.
Fizeram milhares de bolas de carvão e serviram milhares de copos de
vinho ao balcão.
Foram simples empregados de tasca.
Mas pouparam.
E quando surgiu a oportunidade estabeleceram-se como comerciantes no ramo.
Cada um à sua maneira foram-se desenrascando.
Porque sempre assumiram as suas vidas pelas suas próprias mãos.
Porque sempre acreditaram neles próprios.

E nós, eu e os meus primos, nunca passámos por necessidades básicas.
Nós, eu e os meus primos, sempre tivémos a possibilidade de acesso ao
ensino e à formação como ferramentas para o futuro.
Uns aproveitaram melhor, outros nem tanto, mas todos tiveram as
condições que necessitaram.
E é este o exemplo de vida que, ainda hoje, com 60 anos, me norteia e me
conduz.

Salvaguardadas as diferenças dos tempos mantenho este espírito.
Não preciso das ajudas do Estado.
Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.
Não preciso das ajudas da família que também têm as suas próprias vidas.
Não preciso das ajudas dos vizinhos e amigos.
Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.

Preciso de mim.
Só de mim.
E, por isso, não sou, nunca fui, de qualquer geração à rasca.
Porque me desenrasco.
Porque sempre me desenrasquei.

O mal desta auto-intitulada geração à rasca é a incapacidade que revelam.
Habituados, mal habituados, a terem tudo de mão beijada.
Habituados, mal habituados, a não precisarem de lutar por nada porque
tudo lhes foi sendo oferecido.
Habituados, mal habituados, a pensarem que lhes bastaria um canudo de
um qualquer curso dito superior para terem garantida a eterna e fácil
prosperidade.
Sentem-se desiludidos.

E a culpa desta desilusão é dos "papás" que os convenceram que a vida
é um mar de rosas.
Mas não é.
É altura de aprenderem a ser humildes.
É altura de fazerem opções.
Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não encontram emprego "digno".
Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não conseguem ganhar o
dinheiro que possa sustentar, de imediato, a vida que os acostumaram a
pensar ser facilmente conseguida.
Experimentem dar tempo ao tempo, e entretanto, deitem a mão a qualquer
coisa.
Mexam-se.
Trabalhem.
Ganhem dinheiro.

Na loja do Shopping.
Porque não ?
Aaaahhh porque é Doutor...
Doutor em loja de Shopping não dá status social.
Pois não.
Mas dá algum dinheiro.
E logo chegará o tempo em que irão encontrar o tal e ambicionado
emprego "digno".
O tal que dá status.

O meu pai e tios fizeram bolas de carvão e venderam copos de vinho.
Eu, que sou Informático, System Engineer, em alturas de aperto, vendi
bolos, calças de ganga, trabalhei em cafés, etc.
E garanto-vos que sou hoje muito melhor e mais reconhecido socialmente
do que se sempre tivesse tido a papinha toda feita.

Geração à rasca ?
Vão trabalhar que isso passa."

Não faço ideia quem escreveu, mas escreveu muito bem ;)

:)*



“And above all, watch with glittering eyes the whole world around you because the greatest secrets are always hidden in the most unlikely places.”
» Roald Dahl

terça-feira, 5 de abril de 2011

Eu chegava primeiro
e tinha de esperar-te
e antes de chegar
já lá estavas
naquele preciso sítio combinado.
Sabia, e sei, que um dia não virás
que até duvidarei
que estiveste onde estiveste
até se exististe
ou se eu mesma existi
naquela hora certa,
naquele lugar.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

CAMPEÕEESS CAMPEÕEEES NÓS SOMOS CAMPEÕEEEES!



Ora encontro-me em estado maravilha por causa do meu FCP..No meio desta crise económica e ambiental, só o meu FCP para me dar alegrias! Geeeeeentxi! :D :D

Adoro ver os comentários no JN, encontram-se sempre pérolas.
Mas antes, devo aqui explanar algumas pérolas que ouvi de benfiquistas ressabiados, tais como:
- o FCP já fez isto em 2009 no jogo não sei com quem
- O Pinto da Costa já tinha pago este campeonato préviamente com fruta e café com leite
- Em 1993, o FCP deitou diluente e veneno nos chuveiros em que os jogadores do SLB iam tomar banho e coitadinhos foram todos para o hospital
- O Roberto foi drogado antes de entrar no jogo
- O Pinto da Costa pertence a uma máfia da América Latina, poderosíssima

Ora depois destas belas pérolas de quem não sabe perder e pensa que ainda está em 1954, aqui vai a tal do adepto portista no JN:

"O que eu descobri..
... num só dia:- que o SLB está tão à rasca de dinheiro que não consegue pagar a conta da luz- que a razão é ter uma conta tão grande na EPAL- que o Jesus afinal não é eletricista (pensava que aquela trunfa era do homem apanhar choques electricos todos os dias)- que é possivel expulsar 1 jogador com duplo amarelo sem ele ter cometido sequer 1 falta- que o Paraguai tem o campeão nacional de karaté a jogar no Benfica- que afinal existem macacos brancos em Lisboa (vi com os meus olhos 1 a ser preso pela polícia antes do jogo)... eu pensava que era tudo macacos de andaimes- que era possivel perdoarem mais cartões vermelhos a jogadores da mesma equipa do que no jogo da supertaça...- e...que existem bolas de golfe amarelas!!!!!!!"

Pois é meu caro anónimo.. há coisas fantásticas não há?

;)

Talvez ainda...

«Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: «A noite tem estrelas e, azuis, os astros tiritam na distância.»

O vento nocturno gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Eu amei-o e, por vezes, ele também me quis.

Em noites como esta tive-o nos meus braços,

beijei-o tantas vezes sob o céu infinito.

Ele quis-me e por vezes eu também lhe queria.

Como não ter amado seus grandes olhos firmes?

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Pensar que não o tenho. E sentir que o perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ele.

E o verso cai na alma qual o prado o rocio.

Que importa o meu amor não pudesse guardá-lo!

A noite tem estrelas e ele não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.

Minha alma não se conforma com havê-lo perdido.

Como para aproximá-lo, o meu olhar procura-o.

Meu coração procura-o, ele não está comigo.

A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.

Porém, nós já não somos os mesmos desses dias.

Já não lhe quero, é certo, mas quanto amor lhe tive!

Minha voz buscava o vento para tocar seus ouvidos,

De outra. Será de outra. Como antes dos meus beijos.

Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.

Já não lhe quero, é certo, mas talvez ainda lhe queira.

É tão breve o amor, é tão longe o olvido.

Porque em noites como esta tive-o nos meus braços.

Minha alma não se conforma com havê-lo perdido.

Embora esta seja a última dor que ele me causa

e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.»

domingo, 3 de abril de 2011

Enfim...


« Os homens já não têm tempo para tomar conhecimento de nada. Compram coisas feitas aos mercadores. Mas como não existem mercadores de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, cativa-me.»
O Príncipezinho

...

..silêncios..


"Deram-me o silêncio para eu guardar dentro de mim
A vida não se troca por palavras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
As vozes que só em mim são verdadeiras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
A impossível verdade da palavra.

Deram-me o silêncio como uma palavra impossível,
Nua e clara como o fulgor de uma lâmina invencível,
Para eu guardar dentro de mim,
Para eu ignorar dentro de mim
A única palvra sem disfarce –
A palavra que nunca se profere."

»Adolfo Casais Monteiro

quarta-feira, 30 de março de 2011

Die Welle





..é por estas e por outras, que adoro as aulas da Dra Paula Morais.
Fantástico.

terça-feira, 29 de março de 2011

*


"A liberdade não é uma filosofia e nem sequer uma ideia, é um movimento da consciência que nos leva, em certos momentos, a proferir dois monossílabos: Sim ou Não. Na sua brevidade instantânea, como a luz do relâmpago, desenha-se assim o sinal contraditório da natureza humana."

»Octávio Paz

*



"..Parece que existe no cérebro uma zona perfeitamente específica que poderia chamar-se memória poética e que regista aquilo que nos comoveu, aquilo que dá à nossa vida a sua beleza própria. Desde que Tomas conhecera Tereza, nenhuma mulher tinha o direito de deixar qualquer marca, por mais efémera que fosse, nessa zona do seu cérebro.."

»Milan Kundera, in A Insustentável Leveza do Ser

:)

sexta-feira, 25 de março de 2011

*



..no meio desta vida atribulada/stressante em que vivemos, nunca nos esqueçamos daqueles com quem partilhamos o coração e a vida.. cada vez menos há tempo para amar, mas como eu sou do contra, amo cada vez mais ;)*

quinta-feira, 24 de março de 2011

*



"Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente."

Maiakóvski

domingo, 20 de março de 2011

adoro *



bem, aos 29 anos é que conheço Lenine. tristeza, tristeza.

De qualquer modo o mundo continua.



"Nós vivemos na cidade quase sempre perdidos
nas nossas pequenas razões. Estas ruas
ainda prometem mais do que podem cumprir?
A breve epifania do amor ou simplesmente
um cúmplice que nos diga, à mesa de um café,
que não faz mal, que pouco importam
as perdas e danos que sofremos.

De qualquer modo o mundo continua.

Entre o medo e a esperança
procuramos a nossa incerta morada
e enquanto isso envelhecemos mais um dia,
colhidos pelo tempo em plena queda. Nas praças,
nos quintais, a noite aparece depois do jantar
cheia de boas promessas, mas já vem condenada
ao tropel dos crentes, ao cego movimento da manhã."

»Rui Pires Cabral

quinta-feira, 17 de março de 2011

:)*



"..though nothing can bring back the hour
of splendour in the grass,
of glory in the flower;
we will grieve not, rather find
strength in what remains behind."

»william wordsworth

terça-feira, 15 de março de 2011

Pray *


"Oh, Great Spirit
Whose voice I hear in the winds,
And whose breath gives life to all the world,
hear me, I am small and weak,
I need your strength and wisdom.
Let me walk in beauty and make my eyes ever behold
the red and purple sunset.
Make my hands respect the things you have
made and my ears sharp to hear your voice.
Make me wise so that I may understand the things
you have taught my people.
Let me learn the lessons you have
hidden in every leaf and rock.

I seek strength, not to be greater than my brother,
but to fight my greatest enemy - myself.
Make me always ready to come to you
with clean hands and straight eyes.
So when life fades, as the fading sunset,
my Spirit may come to you without shame."


»(translated by Lakota Sioux Chief Yellow Lark in 1887)

.. a Natureza está a devolver tudo o que lhe demos. O Japão é o último exemplo disso. Quase que acredito nas fadinhas fláfláflás com as teorias do 2012. Quase.

domingo, 13 de março de 2011

....



"Não sei o que é um espírito. Ninguém
conhece a fundo a luz do seu abismo
enquanto o vento, à noite, vai abrindo
as infinitas portas de uma casa
vazia. A minha voz
procura responder a outra voz,
ao choro dos espectros que celebram
a sua missa negra, o seu eterno
sobressalto. Num ermo
da cidade magoada escuto ainda
o rumor de um oráculo,
a febre de um adeus que se prolonga
no estertor dos ponteiros de um relógio,
nesse ritmo feroz, na pulsação
do meu sangue exilado que recorda
um abrigo divino. pai nosso, que estás
entre o céu e a terra, conduz-me
ao precipício onde hibernou a alma
e ensina-me a romper a madrugada
como se a minha face fosse
um estilhaço da tua
e nela derretessem, por milagre,
estas gotas de gelo ou de cristal
que não sabem ser lágrimas."

Fernando Pinto do Amaral

Parte 6*

Parte 5*

Parte 4*

Parte 3*

Parte 2*

Parte 1*

quarta-feira, 9 de março de 2011

tive de partilhar aqui. teve de ser!



Por ser verdade e por ser uma vergonha,

"O jornal "A Bola" é para mim uma espécie de resquício em forma de folhetim diário da visão futebolística dos tempos antigos. Vive às custas da imagem de um clube porque esta continua a vender, já o fado nem tanto, Fátima lá está e o outro senhor, a quem convinha ter o povo feliz e embriagado, sereno e de mordaça, faz tijolo há muito tempo. Mas o jornal continua a viver numa espécie de redoma de impunidade futebolístico-intelectual sem grande intelecto, dando-se ao luxo de produzir capas facciosas e tendenciosas como a de ontem. Vale tanto como um folheto do Lidl, mas com muito menos variedade.

Pouco lhes importa se menorizam e enxovalham neste processo de defesa cego a um só clube os adeptos, as equipas, e todos os profissionais de clubes alheios. Uma total ausência de respeito pelos restantes. Aproveitando-se deliberadamente de um país em que a maioria é benfiquista, o jornal "A Bola" chuta para canto a isenção e dá-se ao luxo de criar capas como esta que vemos mais acima. Palavras para quê? Lendo o jornal, o Sporting de Braga parece não ter jogado e marcado dois golos e pelos vistos o FC Porto também não havia ganho ao Vitória de Guimarães no dia anterior, precisou por isso do Sr. Carlos Xistra. E o Roberto não sofreu um golo do meio campo, coisa que nem nos jogos dos infantis se vê. Foi tudo ilusão. Lá teremos daqui a algum tempo e a custo que fazer uma capa a dizer "FC PORTO CAMPEÃO ". Imagino o sofrimento e o ambiente pesado na redação.

Acho que qualquer pessoa minimamente inteligente percebe que o Benfica não precisa disto. Um benfiquista não precisa que um órgão de informação não oficial do clube produza contra-informação permanente que visa exclusivamente encobrir, aligeirar ou justificar desaires. Vitórias enaltecidas como se da batalha de Aljubarrota se tratassem. Miminhos e agrados. As contratações melhores do mundo. Jesus é Deus na terra e Deus Pai Nosso Senhor que se lixe ou vá treinar o Alverca. Agora entende-se a reunião da direção do clube com alguns meios de comunicação social há alguns meses ("definir estratégias"- disseram então...)

O Benfica é muito maior que o jornal "A Bola" e levantar-se-á por ele próprio se cair. Não precisa do andor ou de empurrões em formato de papel. É isso que distingue os clubes ditos grandes dos outros. Nem o jornal "O Jogo", que todos adoram apontar, e com alguma razão, como o jornal oficial do Porto clube, foi capaz alguma vez de produzir uma capa deste calibre. Reles. E jamais em tempo algum menosprezou uma vitória do Benfica. Nunca vi. Nunca li. Mostrem-me.

Esta capa do jornal "A Bola" é provavelmente o maior nojo jornalístico-desportivo dos últimos 20 anos. É de uma azia inexplicável, inqualificável e inadmissível entre profissionais (não todos certamente) mas ajuda em parte a explicar porque é que o FC Porto tem a garra que tem e é neste momento o único clube a ser visto e considerado como "grande" fora de portas. São estas coisas que alimentam o Dragão. Cá dentro continuam a ser tratados como os saloios do costume pela mesquinha e bolorenta comunicação. Mérito a quem o tem. Enorme FC Porto.

PS: Não entendo como ainda há pessoas, adeptos de outros clubes que não o Benfica, que continuam a escrever opinião neste jornal de propaganda avermelhada como se nada se passasse. Devem ser mesmo muito bem pagas."

Subscrevo inteiramente as palavras deste senhor.. Não apenas por ser portista, mas porque é uma falta de respeito à inteligência de todos os que gostam de futebol.

*



"Nunca se pode concordar em rastejar, quando se sente ímpeto de voar"

»Helen Keller

*

:)

*



"Às vezes penso que se fosse uma magnólia quereria ser um laranjeira, se fosse um águia quereria ser um cavalo ou se fosse um quadro quereria ser uma fotografia. Esqueço-me que devo ser o que sou. Pela evidência de ser o único que tenho e posso ser e, porque, só quando gostar disso é que posso tocar a felicidade e passá-la.
Fico a pensar que perdemos demasiado tempo em querer dar laranjas, em galopar velozmente ou em ser o flash de um instante supremo. Quando, na verdade, o que podemos fazer é chegar a dar muitas e belas flores, voar cada vez melhor ou tornarmo-nos até num Rembrandt.
Cada qual deve acabar por pegar na própria vida nos braços e beijá-la"

»Arthur Miller

terça-feira, 8 de março de 2011

humanidadedesumanizada.



"Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar."


»Bertold Brecht

sábado, 5 de março de 2011

*


"Sempre me dei ares de rapariga muito solta. Mas, para falar verdade, estive a
fazer as contas no outro dia, e só tive onze amantes. Sem contar com o que
aconteceu antes de eu ter treze anos porque, a bem dizer, essa parte não conta.
Onze. Isso faz de mim uma puta? Olha para a Mag Wildwood. Ou a Honey Tucker. Ou
a Rose Ellen Ward. Elas já fizeram truca-truca tantas vezes que podiam formar
uma banda de percussão. É claro que eu não tenho nada contra as putas. A não ser
uma coisa: algumas podem ser verdadeiras mas têm corações falsos. Quer dizer,
não se pode foder o tipo e descontar os cheques dele sem pelo menos tentarmos
acreditar que o amamos. Eu cá tentei sempre.

Além disso, deitei
fora todos os meus horóscopos. Devo ter gasto um dólar em todas as estrelinhas
do raio do planetário. É uma chatice mas a verdade é que as coisas boas só nos
acontecem se formos bons. Bons? É mais se formos honestos, não uma
honestidade de cumprir a lei… -eu cá era capaz de profanar uma campa
e de roubar os dois olhos de um morto se achasse que isso me dava gozo por um
dia -mas uma honestidade para connosco. Tudo menos ser-se
cobarde, fingido, um bandido emocional, uma puta: preferia ter cancro a
um coração falso. O que não tem nada de beato, é uma questão muito
prática. O cancro pode matar, mas a alternativa de certeza que mata. Oh, que se
lixe, passa-me a guitarra que eu canto-te um fado num português
impecável."

» Truman Capote

*


Em 1854, ao ser sondado pelo governo Norte-Americano sobre o interesse de venda de suas terras, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, redigiu o hino de amor a suas origens que publicamos abaixo, documento cuja mensagem resgata os vínculos do homem com a natureza.

O que ocorrer com a terra, recairá sobre os filhos da terra. Há uma ligação em tudo…

Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho.
Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro, e o homem – todos pertencem à mesma família.
Portanto, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós.
O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não será fácil. Esta terra é sagrada para nós.
Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar as suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção da terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra aquilo de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.
Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreenda.
Não há um lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater das asas de um inseto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído parece somente insultar os ouvidos.
E o que resta da vida se um homem não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro – o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém. O vento que deu a nosso avô seu primeiro inspirar também recebe seu último suspiro. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados.
Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir.
Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos somente para permanecer vivos.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo.
Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem as suas crianças o que ensinamos as nossas que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos.
Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra. Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo.
O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.
Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos – e o homem branco poderá vir a descobrir um dia: nosso Deus é o mesmo Deus. Vocês podem pensar que O possuem, como desejam possuir nossa terra; mas não é possível. Ele é o Deus do homem, e Sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco. A terra lhe é preciosa, e ferí-la é desprezar seu criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo que todas as outras tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos.
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa impregnadas do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruída por fios que falam.
Onde está o arvoredo? Desapareceu.
Onde está a águia? Desapareceu.
É o final da vida e o início da sobrevivência.
Carta do Chefe Seattle ao Presidente dos EUA Franklin Pierce, escrita em 1854.
* texto encontrado no blog: http://artesdosul.blogspot.com/p/carta-seattle.html

Good Morning Saturday!





“The heart was made to be broken.”
» Oscar Wilde

sexta-feira, 4 de março de 2011

*



"Um cigarro
ninguém tem
um cigarro?
um copo de vinho
um amor perdido
uma causa iludida
uma angústia a mais?
alguém quer trocar
de veias
de sangue
de coração
de pulmões?
um cigarro
ao menos
ninguém tem
um cigarro?"



»Carlos Alberto Machado

quinta-feira, 3 de março de 2011

coração.morto.morto?*



“Não é uma tartaruga
Escondida na sua pequenina carapaça verde.
Não é uma pedra para pegar
e por debaixo da tua asa preta.
Não é uma carruagem antiquada de metro.
Não é um pedaço de carvão que tu podes acender.
É um coração morto.
Está dentro de mim.
É um estranho
mas já foi afável,
abrindo e fechando como uma amêijoa

O que me custou, tu não podes imaginar
psis, padres, amantes, filhos, maridos,
amigos e tudo o resto.
O quão caro que foi continuar.
Também devolveu
Não o negues.
Quase que me pergunto se Abril o poderia devolver à vida
Uma tulipa? O primeiro botão?
Mas esses são apenas devaneios meus
a pena que se tem apenas quando se olha para um cadáver.

Como é que ele morreu?
Chamei-lhe MALVADO
disse-lhe, os teus poemas tresandam como vómito.
Não fiquei para ouvir a última frase.
Morreu na palavra MALVADO.
Eu fiz isso com a minha língua.
A língua, dizem os chineses
é como uma faca afiada
mata sem derramar sangue
.“

»Anne Sexton

quarta-feira, 2 de março de 2011



“To love. To be loved. To never forget your own insignificance. To never get used to the unspeakable violence and the vulgar disparity of life around you. To seek joy in the saddest places. To pursue beauty to its lair. To never simplify what is complicated or complicate what is simple. To respect strength, never power. Above all, to watch. To try and understand. To never look away. And never, never, to forget.”
» Arundhati Roy

life is simple ;)*

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

*


* Native American Ten Commandments

1 - Treat the Earth and all that dwell therein with respect

2 - Remain close to the Great Spirit

3 - Show great respect for your fellow beings

4 - Work together for the benefit of all Mankind

5 - Give assistance and kindness wherever needed

6 - Do what you know to be right

7 - Look after the well-being of Mind and Body

8 - Dedicate a share of your efforts to the greater Good

9 - Be truthful and honest at all times

10 - Take full responsibility for your actions

Abre a tua mente.. * gosto muito :)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Quem sabe o valor exacto de uma vida?

"Cristãos, pagãos, maometanos,

A qual de vós fará o Mistério a vontade?

A incerteza do que é a morte é o que nos vale na vida.

O desconhecimento do que é a morte é o sentido da vida.

O desconhecermos a morte é que faz a beleza da vida.



Quem sabe o valor exacto de uma vida?

Sei que há uma vida, e que apagam essa vida - não sei é quem apaga
Mas sei que de cada vida que passa há um universo em mim."


»Álvaro de Campos

é por isto que não gosto de ir ao V5.



.. aquilo tem bad vibes.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

sobre casas, amor e fogo.



“Love is a fire. But whether it is going to warm your hearth or burn down your house, you can never tell.”
— Joan Crawford

.. correntemente amar é um acto de coragem.
ninguém quer ficar sem casa.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

o Cerco mata-me.



"Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu luto para que a justiça social se implante antes da caridade."

»Paulo Freire

..sentir as gentes, áparte das ideologias.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

endurecer.



"não se sai do abismo,
aprende-se a sua linguagem."

Vasco Gato*

pronto, vejo estes filmes e lá se vai o equilibrio.. como diria a minha estimada professora: "Oh colega, cuidado com as emoções ham?"

-_-

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

*


“Of all sad words of tongue or pen, the saddest are these, ‘It might have been.”
— John Greenleaf Whittier *

E pronto voltei a blogar.